A Cruz - parte 3 | IAVB - Igreja Apostólica Vale da Bênção

A Cruz - parte 3

3º - O sacrifício mais excelente.


Os filhos do primeiro casal possivelmente tenham ouvido os impressionantes testemunhos de seus pais, referentes à desobediência de ambos, ao primeiro pecado, à vergonha da queda e nudez, e à tentativa frustrada de providenciar por si a rude e imprópria vestimenta confeccionada a partir de folhas. Ouviram, também, a respeito da providência divina que os cobriu com a suficiente cobertura de peles, retiradas por Deus de uma vítima inocente, num cruel ato de substituição, que satisfez a justiça divina.

Tais relatos, depois de ouvidos, provocaram indubitavelmente em seus ouvintes temor e reverência a Deus. O sacrifício e a oferta parece ter sido práticas incorporadas às atitudes relativas a Deus. Porém, cada indivíduo distinguiu-se pela forma que se aplicava a tais práticas. Assim é que o quarto capítulo de Gênesis demonstra ter havido diferenciação entre as ofertas dos dois primeiros filhos do casal.

A oferta aqui, no hebraico, é hjnm, min’rhah, que significa: dádiva, homenagem, oferta, oferenda, sacrifício. Era algo devotado em demonstração de respeito, veneração, agradecimento ou amizade. Era, segundo Kidner, “uma dádiva feita para homenagem ou para aliança e, como termo ritual, podia descrever ofertas de animais e, mais frequentemente, de cereais”. (Kidner, Derek, Rev. Gênesis, Introdução e comentário. Soc. Relig. Ed. Vida Nova, SP, 1991, p. 70).

Não importando se tais ofertas tinham conteúdo vegetal ou animal, deviam ser entregues com a humildade e submissão advindas da fé. O ofertante deveria estar cônscio que era um pecador, e como tal, procurava o favor imerecido da divindade, entregando de si mesmo através das mesmas ofertas.

A versão grega do Velho Testamento, a Septuaginta, apresenta diferenças entre as ofertas. A de Abel seria um, dôron, dom, presente, tributo; ao passo que a de Caim foi uma, thusia, sacrifício, oferenda.

Não acontece assim no texto hebraico, onde os termos são idênticos. Mas estas diferenciações das escrituras gregas ilustram bem o que de fato expressou-se nas atitudes de ambos. Parece ter Abel oferecido um sincero e generoso presente a Deus trazendo de suas primícias, ao passo que Caim aparentemente apenas quis cumprir uma prática que não passava de uma atividade habitual, trazendo inclusive para ofertar o que havia restado dos frutos de seu próprio extenuante trabalho na terra.

Pela fé, afirma o escritor de Hebreus, o humilde Abel entregou a oferta mais excelente a primícia do seu rebanho (Hb. 11:4), aproximando-se de Deus pela mesma fé, crendo ser Ele o justificador seu e de seus pais. Deus justificara ao primeiro casal através da cobertura de peles. O justo Abel achegou-se a Deus apresentando o seu sacrifício pelo sangue que traz a remissão do pecado.

Diferente de seu irmão, o arrogante Caim, que trouxe o que bem lhe pareceu, cuja vida não era pela fé, mas segundo o maligno (I Jo. 3:12). A atitude de Abel aponta para a cruz de Cristo, e para seu sacrifício propiciatório e remidor, onde a oferta voluntária de um Cordeiro, primícias do Senhor, agradou e satisfez a Deus.

Continua...