A Cruz - parte 5 e 6 | IAVB - Igreja Apostólica Vale da Bênção

A Cruz - parte 5 e 6

5º - O Madeiro no Egito.

Dentro de três dias tirará Faraó a tua cabeça, e te pendurará num madeiro, e as aves comerão a tua carne de sobre ti. (Gn. 40:19; 41:19). José, quando prisioneiro, decifra o enigma de um dos encarcerados. Faraó executaria infame juízo sobre este homem, tal qual foi interpretado seu sonho por José. Este “madeiro” seria possivelmente um instrumento de suplício, distinto da cruz, talvez mesmo uma forca. Mas não como um instrumento brutal, causador de morte horrenda e que representa infortúnio, vergonha e desprezo, como seria a cruz romana.

6º - O Sacrifício Pascal.

Respondereis: Este é o sacrifício da páscoa do Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios, e livrou as nossas casas. Então o povo inclinou-se e adorou. (Êx. 12:27). Mais que um ritual comemorativo da poderosa intervenção divina pela libertação do povo de Israel da escravidão do Egito.

A Ceia e o Sacrifício Pascal são uma representação profética do sacrifício substitutivo de Cristo, justamente em meio aos preparativos da comemoração daquela festa em Jerusalém. Deus poupa ao povo de Israel da morte, quando o anjo exterminador passava sobre o Egito, ceifando as vidas dos primogênitos egípcios. Isto se dá pelo fato de toda família judia ter trancado suas portas e sacrificado o cordeiro pascal.

O sangue da vítima era aspergido sobre as vergas das portas: Tomarão do sangue, e pô-lo-ão em ambos os umbrais e na verga da porta, nas casas em que o comerem... Então tomareis um molho de hissopo, embebê-lo-eis no sangue que estiver na bacia e marcareis com ele a verga da porta e os dois umbrais. Porque o Senhor passará para ferir aos egípcios; e, ao ver o sangue na verga da porta e em ambos os umbrais, o Senhor passará aquela porta, e não deixará o destruidor entrar em vossas casas para vos ferir. (Êx. 12:7,22,23).

O sangue aspergido nas madeiras das portas preservou o judeu crédulo da morte que sobreveio ao Egito. O sangue de Jesus, derramado sobre o madeiro do Calvário preserva hoje o cristão crédulo da morte eterna que sobrevém ao mundo. A estas instruções acrescentar-se-iam outras ainda mais detalhadas e específicas, que delineariam todo o cenário da crucificação: Não sacrificarás o sangue do meu sacrifício com pão levedado, nem o sacrifício da festa da páscoa ficará da noite para a manhã. (Êx. 34:25).

Em primeiro lugar o sangue do sacrifício não tocaria pão levedado. Ninguém poderia comê-lo durante a páscoa: “não se comerá pão levedado... não se verá contigo, nem ainda fermento será visto em todos os teus termos”. (Êx. 13:3,7). A massa do pão seria levedado pelo contato com o fermento, figura das doutrinas e ensinamentos contaminados pelas intenções e conveniências humanas, contrárias ao alimento espiritual puro e santo das palavras de Cristo. (Mt. 16:6, Mc. 8:15).

Paulo recomenda-nos não contatar e compactuar com tais ensinos: Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado (I Co. 5:7). O sangue do sacrifício era puro, imaculado e sem qualquer contaminação.

Outra recomendação expressa visa à urgência e rapidez do sacrifício: “nem ficará da noite para a manhã a gordura da minha festa” (Êx. 23:18; 34:25). Assim era com as ofertas pacíficas por ação de graças: “Ora, a carne do sacrifício... se comerá no dia do seu oferecimento; nada se deixará dela até pela manhã” (Lv. 7:15). O cordeiro pascal deveria ser consumido pela família reunida no mesmo dia de seu sacrifício. Jesus, nosso cordeiro pascal, foi sacrificado e sepultado no mesmo dia. Seu corpo não permaneceu sobre a cruz até pela manhã, o que se constituiria um flagrante desagravo às Escrituras, além de imensa ofensa ao Senhor. Expirando no mesmo dia, foi baixado da cruz, levado até uma sepultura escavada na rocha e sepultado ali, num túmulo novo (Mt. 27:60).

Os judeus, escrupulosos com suas práticas e tradições, demandaram que o corpo de Jesus fosse retirado da cruz no mesmo dia. Inconscientemente faziam cumprir as profecias a respeito do sacrifício pascal de Cristo: “Ora, os judeus, como era a preparação, e para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, pois era grande aquele dia de sábado, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados dali... mas vindo a Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas” (Jo. 19:31,33).

Também, inconscientemente, os guardas romanos, José de Arimatéia e Nicodemos cumpriram as escrituras: “Dela não deixarão nada até pela manhã, nem quebrarão dela osso algum; segundo todo o estatuto da páscoa a celebrarão”. (Nm. 9:12) Justamente ao cair da tarde José de Arimatéia foi a Pilatos pedir o corpo de Jesus a fim de sepultá-lo (Mt. 27:57-58). Pilatos admirou-se do fato de ter Jesus morrido tão apressadamente (Mc. 15:44).

Jesus foi sacrificado e sepultado no mesmo dia: “Ali, pois, por ser a véspera do sábado dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro, puseram a Jesus” (Jo. 19:42). As leis referentes ao sacrifício da Páscoa foram satisfeitas em Jesus Cristo. Ele definitivamente é nosso Cordeiro Pascal. “Então celebraram a páscoa no dia catorze do primeiro mês, à tardinha, no deserto de Sinai; conforme tudo o que o Senhor ordenara a Moisés, assim fizeram os filhos de Israel” (Nm. 9:5).

A próxima recomendação, como vimos, era referente à data da comemoração da páscoa, a ser observada com precisão: “No dia catorze do primeiro mês, à tarde” (Nm. 9:3,5). Foi estritamente observada pelos “filhos de Israel acampados em Gilgal” (Js. 5:14); pelos “que vieram do cativeiro” (Ed. 6:19) e pelos “judeus que se achavam em Susã” (Et. 9:15).

O Senhor ainda recomendava: “Guarda o mês de abibe, e celebra a páscoa ao Senhor teu Deus; porque no mês de abibe, de noite, o Senhor teu Deus tirou-te do Egito” (Dt. 16:1; Êx. 13:4; 23:15; 34:18). Abib era o primeiro mês do ano. Foi chamado depois do exílio de Nisã (Et. 3:7). A palavra hebraica byba, abib, significa “espiga”, e realmente abib era o mês da colheita das espigas de cevada, que era usada para o pão. Os pães do rapaz, que foram usados para a multiplicação de Jesus, era daquele cereal (Jo. 6:9) e “a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima” (Jo. 6:4). Na páscoa, que estava próxima, comer-se-iam pães ázimos, sem fermento. Tendo estas coisas em mente: o pão, a páscoa, a festas dos pães, o mês da colheita das espigas, Jesus ensina: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai, imprimiu o seu selo” (Jo 6:27), e completa: “Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo... Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome” (Jo. 6:34-35).

Finaliza, apontando para sua crucificação: “e alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne” (Jo. 6:51). A páscoa, o cordeiro e os pães apontam todos para o sacrifício de Cristo. É o pão que ele daria pela vida do mundo: sua própria carne, seu corpo, no sacrifício do Gólgota. “Sacrificarás a páscoa ao Senhor teu Deus, no lugar que o Senhor escolher para ali fazer habitar o seu nome... Não poderás sacrificar a páscoa em qualquer uma das tuas cidades que o Senhor teu Deus te dá; mas no lugar que o Senhor teu Deus escolher para ali fazer habitar o seu nome; ali sacrificarás a páscoa à tarde, ao pôr do sol, ao tempo determinado da tua saída do Egito” (Dt. 16:2,5,6). O sacrifício da Páscoa tinha lugar e horário definido. Seria: “no lugar que o Senhor escolher para ali fazer habitar o seu nome”. Este lugar não é nenhum outro senão Jerusalém. “Por amor de Jerusalém, a cidade que escolhi dentre todas as tribos de Israel... para ali pôr o meu nome” (I Rs. 11:32,36).

O reformador rei Josias observou meticulosamente este preceito: “Então Josias celebrou a páscoa ao Senhor em Jerusalém; imolou-se o cordeiro da páscoa no décimo quarto dia do primeiro mês” (II Cr. 35:1). O cordeiro da Páscoa tinha de ser imolado na santa cidade. Por esta razão, com absoluta consciência, sabendo ser o próprio Cordeiro Pascal, “começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia ressuscitasse” (Mt. 16:21; Mc 10:33). Além disso, “quando se completavam os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém” (Lc. 9:51). Jesus lembrou: “Sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado” (Mt. 26:2).

Também Moisés e Elias, durante a transfiguração, preocupavam-se com este fato, “os quais apareceram com glória, e falavam da sua partida que estava para cumprir-se em Jerusalém” (Lc. 9:31). Partida, neste texto grego, é “eksodos”, e significa: “saída, marcha, partida, êxodo” e passou a dar o nome ao Livro que fala justamente da partida de Israel do Egito (Hb. 11:22) e da instituição da refeição pascal.

Também, algumas vezes, no Novo Testamento tem o significado de “morte”, forma da saída ou partida do ser humano deste mundo. É essa a expressão de Pedro: “Depois da minha partida tenhais lembrança destas coisas” (I Pd. 1:15).

De tal forma expressaram os dois personagens do Velho Testamento na transfiguração. Dialogavam com Cristo sobre sua partida a cumprir-se justamente em Jerusalém, através da morte por cruz. Exatamente através de Moisés, Deus especificou a localização do cumprimento final da Páscoa, com o cordeiro pascal Jesus a morrer na cidade onde o Senhor escolheu “para ali fazer habitar o seu nome”.

A pregação da remissão de pecados começa nesta cidade: “e que em seu nome se pregasse o arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc. 24:47).


Continua...