O Sofredor Perseguido - parte 1
Jó = 6:4.
Porque as flechas do Todo-Poderoso se cravaram em mim, e o meu espírito suga o veneno delas; os terrores de Deus se arregimentam contra mim”.
Os textos a seguir preparam a visão do Messias Sofredor de Isaías 53, dando-o como aflito e perseguido de Deus, desprezado e zombado pelo povo. “Por que escondes o teu rosto, e me tens por teu inimigo?” (Jó 13:24). Parece o prelúdio do Salmo 22 que clama: “por que estás afastado de me auxiliar, e das palavras do meu bramido?” (v.2).
Jó prossegue certo de que Deus o tem alvejado indiretamente, por permissão: “Na sua ira ele me despedaçou, e me perseguiu; rangeu os dentes contra mim; o meu adversário aguça os seus olhos contra mim”. (Jó 16:9), e termina com: “Deus me entrega ao ímpio, nas mãos dos iníquos me faz cair... cercam-me os seus flecheiros”. (Jó 16:11,13).
O pensamento fixo de Jó era de que Deus o aflige através da permissão dada aos ímpios, e é reforçado pela visão do Servo Sofredor de Isaías, em que o Messias é o ferido de Deus e o oprimido por Ele. Dada a permissão por Deus, os perversores o perseguem sem medida, como passa a relatar:
“Estou cercado de zombadores, e os meus olhos contemplam a sua provocação! Mas a mim me pôs por provérbio dos povos; tornei-me como aquele em cujo rosto se cospe”. (Jó 17:2,6) “Mas agora vim a ser a sua canção, e lhes sirvo de provérbio. Eles me abominam, afastam-se de mim, e no meu rosto não se privam de cuspir”. (Jó 30:9,10).
A perseguição e desprezo dos homens pelo Messias são predito por Jó nas palavras: “Os homens abrem contra mim a boca; com desprezo me ferem nas faces, e contra mim se ajuntam à uma”. (Jó 16:10). Note que ele é acertivo, ao especificar que o feririam nas faces: “Com desprezo me ferem nas faces...” (Jó 16:10). Isaías profetizará o mesmo: “Ofereci... as minhas faces aos que me arrancavam a barba...” (Isaías 50:6).
Há também no livro de Jó pormenores que parecem construir a figura do Messias crucificado: “também pões no tronco os meus pés” (Jó 13:27; 33:11), sugere a prisão de Jesus no madeiro. Em Jó 16:8, seu corpo exposto e sua face desfigurada são descrita: “Tu me emagreceste, e isso constitui uma testemunha contra mim; contra mim se levanta a minha magreza, e o meu rosto testifica contra mim”. Suas dificuldades aumentam pela incômoda posição na cruz, seus músculos retesam-se e sofre cãibras indescritíveis.
O tórax comprimido pelo peso do corpo que tende à frente causa-lhe sufocamento: “Não me permite respirar, antes me farta de amarguras”. (Jó 9:18). Observemos atentamente este detalhado informe médico, e poderemos verificar a exatidão e veracidade tanto das profecias bíblicas como dos relatos da crucificação:
Aparentemente parece que o mecanismo da morte na crucificação era asfixia. A corrente de eventos no qual conduziram finalmente a asfixia são as seguintes: Com o peso do corpo que está sendo suportado, os braços eram puxados para cima. Causando o intercostal e o músculo peitoral a ser esticado. Além disso, o movimento destes músculos era oposto pelo peso do corpo. Com os músculos respiratórios esticados assim, a respiração torna-se relativamente fixa. Enquanto a dispneia desenvolve e dor nos pulsos e braços aumentam, a vítima era forçada a levantar o corpo, transferindo desse modo o peso do corpo aos pés. A respiração tornam-se mais fácil, mas com o peso do corpo sendo exercido pelos pés, a dor nos pés e pernas aumentava. Quando a dor se tornava insuportável, a vítima repentinamente abaixava outra vez com o peso do corpo puxando os pulsos e outra vez esticando os músculos intercostal. Dessa maneira, a vítima alterna entre levantar seu corpo a fim de respirar e repentinamente abaixando para aliviar a dor nos pé. Eventualmente, ele torna-se esgotado ou fica inconsciente de modo que não poderia mais levantar seu corpo. Nesta posição, com os músculos respiratórios essencialmente paralisados, a vítima sufocava e morria.
A dor, no livro de Jó é uma constante, sendo que passou por várias e terríveis enfermidades, com chagas e pústulas abertas, infecções e feridas purulentas, que raspava de sua pele com cacos de cerâmica. Porém, Jó, através de seu sofrimento, apenas aponta para dores mais excruciantes, sofridas pelo justíssimo Messias.
Este quadro de agonia e tormento é traçado pelas palavras: “E nenhum deles lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande”. (Jó 3:13). O sofrimento de Jó é contínuo: “Ainda que eu fale, a minha dor não se mitiga; e embora me cale, qual é o meu alívio?” (Jó 16:6). Jesus, mais que Jó sofreu silenciosamente as dores da cruz, sem que elas o deixassem ou diminuíssem, não experimentando nenhum alívio, até expirar com grande brado. Apesar disso, sofreu espontaneamente, pela obediência ao Pai: “Exultaria na dor que não me poupa; porque não tenho negado as palavras do Santo”. (Jó 6:10).
“Pois eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra”. (Jó 19:25). Este é um dos brados mais sublimes das Escrituras. Vem dos lábios do perseguido por Satanás e pelos homens. Daquele que tanto teve e tudo perdeu. Do que ao fim de suas forças e do que parecia ser o fim de sua vida, exulta na visão que Deus o concede.
Observe o texto relacionado a este versículo: Todos os meus amigos íntimos me abominam, e até os que eu amava se tornaram contra mim. Os meus ossos se apegam à minha pele e à minha carne, e só escapei com a pele dos meus dentes. Compadecei-vos de mim, amigos meus; compadecei-vos de mim; pois a mão de Deus me tocou. Por que me perseguis assim como Deus, e da minha carne não vos fartais? Pois eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida esta minha pele, então fora da minha carne verei a Deus; vê-lo-ei ao meu lado, e os meus olhos o contemplarão, e não mais como adversário. O meu coração desfalece dentro de mim! (Jó 19:19-27).
Engloba experiências como: traição, perseguição, privações físicas, dores, solidão, sede de justiça e tantas outras. Porém a experiência sublime a que foi submetido suplantou a todas as outras: contemplar o seu Redentor. É aquele que o redime, que o compra, que paga seu preço.
Jó não só exultava e confiava que seu Redentor já vivia, mas que se levantaria sobre a terra. Jesus, eterno como Deus Pai, vivia ao lado de Jó. Porém, conforme a palavra profética de Jó, seria levantado sobre a terra, o que se cumpriu na crucificação, quando então pode ser definitivamente o remidor e redentor do confiante Jó.
Jó suplica por justiça, e exprime o desejo que suas palavras venham a ser perpetuadas: “Oxalá que as minhas palavras fossem escritas! Oxalá que fossem gravadas num livro! Que, com pena de ferro, e com chumbo, fossem para sempre esculpidas na rocha!” (Jó 18:23-24). Seu desejo é atendido por Deus e hoje podemos contemplar igualmente maravilhados, as palavras de Jó gravadas no Livro dos livros, o qual fala a nós sobre nosso Redentor, que vive para todo sempre.
Somos levados então a cogitar sobre as feições de Cristo no Calvário. Sua figura é horrenda, sobre a cruz, como ainda dirá Isaías 52:14, e insinuado aqui: “Olhai para mim, e pasmai, e ponde a mão sobre a boca”. (Jó 21:5).
Apesar de todo seu sofrimento, o Messias, através de Jó, reivindica sua santidade: “Limpo estou, sem transgressão; puro sou, e não há em mim iniquidade”. (Jó 33:9). Disso testifica o apóstolo Pedro: “Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano...” (I Pd. 2:22). Jó ainda exclama: “Apesar do meu direito, sou considerado mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão”. (Jó 34:6). Não é de si mesmo que fala, pois como qualquer homem experimentou o pecado, mas do Justo e Santo Messias de Israel, Jesus Cristo. Dele pode-se dizer que apesar de seu direito e integridade era considerado mentiroso. Seus perseguidores o chamavam de “pervertedor do povo” (Lc. 23:2,14). Somente dele pode-se dizer que apesar de suas feridas, era sem transgressão.
Por fim o Justo recomenda: “Ó terra, não cubras o meu sangue, e não haja lugar em que seja abafado o meu clamor!” (Jó 16:18). Segundo Jó, que apela para que seu sangue seja testemunha sobre a terra, num futuro profetizado, o seu Redentor testemunharia também através seu próprio sangue: “E a Jesus, o mediador de um novo pacto, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel”. (Hb. 12:24). Este é o fim da crucificação: o derramar do sangue expiatório num sacrifício definitivo que satisfez a justiça divina, e dá testemunho até então.
Continua...