O Sofredor Perseguido - parte 2 | IAVB - Igreja Apostólica Vale da Bênção

O Sofredor Perseguido - parte 2

Salmos 22

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? por que estás afastado de me auxiliar, e das palavras do meu bramido?” (Sl. 22:1).

O livro de Salmos, como tantas outras passagens do Velho Testamento, como em Jó e nos Profetas, está repleto de alusão à crucificação de Jesus. O primeiro versículo deste salmo, muito conhecido, é tido como referência exata a uma das palavras de Jesus já crucificado e em terríveis dores.

Mateus traduz a sentença: “Cerca da hora nona, bradou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactani; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt. 27:46).

Em Marcos encontramos outra forma, "Eloí, Eloí, lemá, sabactani". Profeticamente Davi explicita o sofrimento solitário de Cristo no madeiro, onde era, para Deus, maldito (Dt. 21:22,23). Este clamor irrompeu ao final das três horas de imensas trevas, sendo relatado por Mateus e Marcos.

Outros versículos deste Salmo refletem os pensamentos, palavras e ações dos que circundam a cruz, especialmente os maiorais do povo e a casta religiosa, em ímpia zombaria: “Todos os que me veem zombam de mim, arreganham os beiços e meneiam a cabeça, dizendo: Confiou no Senhor; que ele o livre; que ele o salve, pois que nele tem prazer”. (vv. 7,8).

Tais palavras encontram eco nos relatos de Mateus 27:39,43 e Marcos 15:29. Estes evangelistas dizem terem sido exatamente estas palavras às pronunciadas pelos religiosos judeus perseguidores de Cristo. O salmista diria: “Como com ferida mortal nos meus ossos me afrontam os meus adversários, dizendo-me continuamente: Onde está o teu Deus?” (Sl. 42:10).

Ainda sobre seus inimigos no momento da crucificação: “Muitos touros me cercam; fortes touros de Basã me rodeiam. Abrem contra mim sua boca, como um leão que despedaça e que ruge... Pois cães me rodeiam; um ajuntamento de malfeitores me cerca...” (vv. 12,13,16). Assim predisse Jó anteriormente: “Os homens abrem contra mim a boca; com desprezo me ferem nas faces, e contra mim se ajuntam a uma... estou cercado de zombadores, e os meus olhos contemplam a sua provocação! Mas agora vim a ser a sua canção, e lhes sirvo de provérbio”. (Jó 16:10; 17:2; 30:9).

Também seus sofrimentos físicos são preditos neste Salmo. Suas funções cardíacas se encontraram em uma situação limite. Comenta-se que tenha tido algo como infarto, aparentemente citado em “O meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas”. (v.14). Além de ter sido alvejado pela lança do soldado: “Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água”. (Jo. 19:34). Então seu coração "derreteu-se” como cera em suas entranhas e como água derramou-se" (v.14).

A forma de sua morte, por crucificação, foi explicitada pelo salmista, no versículo 16: “Traspassaram-me as mãos e os pés”, e repetida em João 20:20,25: “...mostrou-lhes as mãos e o lado... o sinal dos cravos nas mãos...”. A exposição de seus ossos pela incômoda posição na cruz também foi predita: “Todos os meus ossos se desconjuntaram” (v.14) e “Posso contar todos os meus ossos”. (v.17). Quando levantavam a cruz, aqueles que se encontravam nela tinham seus pulsos, braços e ombros submetidos a um violento empuxe, levando ao deslocamento dos ossos dos ombros e dos braços, principalmente os cotovelos e pulsos, ficando sobressaltados e expostos. Por isso profeticamente diz o salmista que os ossos “desconjuntaram” e podia-se “contar todos os [seus] ossos” (Sl. 22:14,17).

Após todos estes sofrimentos, lhe sobreveio forte sede, profetizada em: “A minha força secou-se como um caco e a língua se me pega ao paladar; tu me puseste no pó da morte” (Sl. 22:15). Jesus, “para que se cumprisse a Escritura, disse: Tenho sede”. (Jo. 19:28).

Por fim, prediz que suas ricas vestes não seriam rasgadas, mas repartidas por sorte: “Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançam sortes”. (v.18) Seu cumprimento é:

Então, depois de o crucificarem, repartiram as vestes dele, lançando sortes, [para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica deitaram sortes.] (Mt. 27:35). Então o crucificaram, e repartiram entre si as vestes dele, lançando sortes sobre elas para ver o que cada um levaria. (Mc. 15:24). Tendo, pois, os soldados crucificado a Jesus, tomaram as suas vestes, e fizeram delas quatro partes, para cada soldado uma parte. Tomaram também a túnica; ora a túnica não tinha costura, sendo toda tecida de alto a baixo. (Jo. 19:23).

João informa explicitamente que é para que se cumprisse as Escrituras, acrescentando: E, de fato, os soldados assim fizeram. (Jo. 19:24).

Continua...