O Sofredor Perseguido - parte 3
Salmo 31
Nas tuas mãos entrego o meu espírito; tu me remiste, ó Senhor, Deus da verdade... (Sl. 31:5).
Este salmo exprime os terrores finais da cruz, quando a morte avizinha-se e o escarnecimento recrudesce nos momentos mais difíceis de Jesus. Suas últimas palavras sobre a cruz foram inspiradas a Davi, e deste salmo salta para os lábios do Salvador agonizante: Jesus, clamando com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou. (Lc. 23:46). Ali Jesus, perfeito homem, em sua autêntica humanidade expirou recomendando seu espírito a Deus, o Pai.
Estevão, o primeiro mártir, sofrendo a morte por apedrejamento, pode confiar em Jesus, pelo que bradou desta forma e repetiu a fórmula do salmo, dirigindo-se a Ele: Apedrejavam, pois, a Estêvão que orando, dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. (At. 7:59).
Apesar de neste salmo a ordem descritiva do Justo Perseguido ter sido o brado, e após isso a recordação de todas as injúrias e perseguições, na cruz dá-se exatamente o reverso. Jesus experimentou a mais covarde e inescrupulosa perseguição e condenação.
Por causa de todos os meus adversários tornei-me em opróbrio, sim, sobremodo o sou para os meus vizinhos, e horror para os meus conhecidos; os que me veem na rua fogem de mim. (Sl. 31:11).
Desta forma, como aponta o salmista, até mesmo para os vizinhos e conhecidos era uma vergonha. Seus próprios irmãos, seus conhecidos, envergonharam-se dele, ao princípio de seu ministério, “pois nem seus irmãos criam nele”. (Jo. 7:5). Sou esquecido como um morto de quem não há memória; sou como um vaso quebrado. (Sl. 31:12).
Dele não haveria, para muitos, até mesmo memória, tido como um morto esquecido, como disse o salmista. Interessante notar que por vezes os judeus referem-se a alguém tido como inimigo, após sua morte, da seguinte forma: Que seu nome e sua memória sejam esquecidos. Hoje muitos há dentre os judeus que nem sequer menção faz do nome de Jesus, não suportando imaginá-lo o Cristo.
Os mais praticantes não pronunciarão o nome do fundador do cristianismo. Em hebraico, ele é mencionado como “oto-ha-ish”, que significa “aquele homem”. A ideia disseminada de que os judeus, embora rejeitando a reivindicações de Jesus à divindade, consideram-no um grande mestre e uma grande figura moral é completamente falsa. Não aceitamos suas reivindicações e somos indiferentes a seus ensinamentos, simplesmente não estamos interessados nele ou no que disse, assim como os cristãos não estão interessados em Maomé.
Mesmo já estando em intensa agonia não foi poupado das inúmeras e maldosas acusações e blasfêmias. Sucedeu durante a crucificação o que foi profetizado: “tenho ouvido a difamação de muitos, terror por todos os lados” (v. 13). Quantas não foram às palavras acusatórias que Jesus recebeu já sobre a cruz? A sentença: “enquanto juntamente conspiravam contra mim, maquinaram tirar-me a vida”. No mesmo versículo, faz recordar-nos o complô que se deu a fim de que Jesus fosse preso e morto. A conspiração dos principais religiosos e do traiçoeiro Judas formaram uma verdadeira “maquinação” para subtraírem a vida do Senhor. Nas cenas da prisão, crucificação e por fim, da morte de Cristo Jesus, este Salmo cumpriu-se ajustadamente, em todos seus detalhes.
Continua...